quarta-feira, maio 17, 2006

A beleza da cruz


Anualmente, em Cerzedelo, no coração do Vale do Ave, a Primavera estende-se pelas ruas em tapetes de flores e de verdura.

A Festa das Cruzes começa sábado com o assear das dezasseis cruzes que estão à guarda de outras tantas famílias. A madeira nua é coberta com farinha de centeio onde mãos engenhosas espetam pétalas de rosas e outras flores desenhando em cor e beleza as linhas e ornamentos da cruz. São longas horas de devoção e perícia que passa de geração em geração. No domingo, as cruzes floridas são expostas no adro da igreja onde decorrerá a celebração da Luz.

O momento mais comovente da festa é a procissão do Senhor aos Entrevados na manhã de domingo. De madrugada as ruas são transformadas num interrupto tapete florido por onde passará o sacerdote leva a comunhão aos doentes. Ninguém se atreve a pisar as flores antes da passagem do Senhor. O troar dos bombos dos escuteiros e a banda de música anunciam a passagem da procissão. O povo acompanha, rezando e cantando.

As flores em breve estarão murchas. Porém, na sua beleza frágil são um hino de fé daquele povo. Estão ali só para possibilitar a passagem do Senhor do universo e da história. A extensão do tapete e a urdidura dos desenhos falam da solidariedade e dos laços de vizinhança que, durante a noite, do asfalto fizeram um caminho mágico cheio de cor e de vida.

Não parece, mas tudo ali fala da Páscoa e do Ressuscitado. As cruzes floridas, a luz que se multiplica de vela em vela, as ruas transformadas em jardim. São Paulo escreveu um dia que a cruz de Cristo é loucura para os gregos e escândalo para os judeus. Para os crentes ela é a expressão mais sublime do amor de Deus.