quinta-feira, março 22, 2007

Dia Mundial da Água

[hoje, Dia Mundial da Água, lembrei-me de recuperar e partilhar um texto já antigo]
Novembro estava a chegar ao fim, esplendorosamente vestido de tons dourados, castanhos e amarelos. Saímos em direcção à albufeira de Vilarinho das Furnas tendo por companhia as nuvens baixas, alguma breve chuva e a montanha bela, silenciosa e imponente. À medida que a manhã avançava e o caminho se abria à nossa frente, o grupo ia ficando mais unido e as palavras mais soltas.

A água foi uma presença constante nesta caminhada na serra do Gerês. Recordo os regatos a descer pelas encostas húmidas e a ribeira de São João do Campo correndo límpida – tão cristalina que para alguns era a primeira vez que tocavam numa água tão pura. Lá em baixo a vastidão azul da albufeira, vestida de nevoeiro, guardava as ruínas da aldeia mágica.

À noite, no aconchego da casa, as palavras de Francisco de Assis ajudaram-nos a dar sentido a cada gesto, cor, som, paisagem. Porém, a água – a irmã água – foi sem dúvida a actriz principal do dia: “preciosa e casta, humilde e boa, se corre, um canto a Ti entoa,” como reza o cântico das criaturas.

Penso que fomos felizes por duas razões: pudemos desfrutar dois dias de ar puro e soubemos ler a beleza com que, desde o alvor dos tempos, Deus vestiu aqueles penhascos, bosques e riachos. Sou daqueles que acreditam que a beleza está nos olhos de quem contempla. Por isso, para descobrir a beleza não basta olhar; é preciso saber ler os seus sinais.